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Bolsonaro e Maia: ataques em entrevistas refletem histórico de relação tensa

Por Redação Onda Positiva em 17/04/2020 às 09:15:04

Foto: Adriano Machado/Reuters

A divergĂȘncia sobre propostas em discussão no Congresso Nacional deflagrou uma briga pĂșblica entre o presidente da RepĂșblica, Jair Bolsonaro (sem partido), e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). O conflito, evidenciado nas entrevistas ao vivo de duas das maiores autoridades do paĂ­s à CNN, no entanto, é mais antigo e reflete uma relação cheia de altos e baixos.

O tema em questão é o pacote de auxĂ­lio financeiro aos estados, aprovado na Câmara a despeito dos gritos da equipe econômica. O projeto prevĂȘ auxĂ­lio financeiro da União aos governos estaduais sem a exigĂȘncia de contrapartidas. O Planalto diz que não hĂĄ dinheiro para isso e o presidente da Câmara rebate que este é momento de apoio financeiro aos estados, não de reformas.

Fato é que as crĂ­ticas feitas pelo presidente Jair Bolsonaro nesta quinta-feira (16) estão calcadas em dois pontos que jĂĄ frequentaram outros discursos. Da sua parte, o presidente acusa Rodrigo Maia de querer ocupar indiretamente o seu lugar. Ontem, Bolsonaro disse que Maia "controla a pauta", ou seja, decide o que vai ou não a voto e, portanto, dita os projetos que viram ou não leis. O presidente da Câmara justifica que o Congresso age pela falta de ação do governo, que jĂĄ chamou de "deserto de ideias".

Em contrapartida, Maia repete que o presidente da RepĂșblica não faz articulação polĂ­tica e não tem diĂĄlogo fluido com o Congresso Nacional. Em geral, as respostas de Bolsonaro giram em torno de associar o democrata à "velha polĂ­tica". Desta vez, frisando que não falava da Câmara, o presidente levantou dĂșvidas sobre "o tipo de diĂĄlogo" que Maia deseja.

Relembre abaixo os principais episódios da relação entre o chefe do Executivo e o presidente da Câmara ao longo destes dezesseis meses de Bolsonaro no PalĂĄcio do Planalto:

"Ele estĂĄ abalado"

O PSL, à época partido do presidente Jair Bolsonaro, apoiou a reeleição de Rodrigo Maia como presidente da Câmara dos Deputados em fevereiro de 2019. As desavenças começaram a ficar mais evidentes a partir das iniciais discussões da reforma da PrevidĂȘncia, ainda no primeiro semestre.

Maia defendia uma participação maior do governo na discussão do projeto e criticava o presidente por defender pautas que julgava corporativas, como condições especiais para forças de segurança pĂșblica. JĂĄ Bolsonaro afirmava que o Congresso cobrava dele cargos e liberação de verbas para que aprovasse a reforma e outros projetos do governo.

Na semana mais tensa, no final de março, o presidente da Câmara disse que o governo era um "deserto de ideias" e cobrou engajamento. Bolsonaro rebateu e ironizou o presidente da Câmara, disse que ele praticava a "velha polĂ­tica", insinuando semelhante à feita ontem à CNN, mas que perdoava pelo deputado estar "abalado com situações pessoais"

A fala aconteceu logo depois que o ex-ministro Moreira Franco (MDB), sogro da esposa de Maia, ter sido preso. Na réplica, o deputado afirmou que "abalados estão os brasileiros que estão esperando desde 1Âș de janeiro que o governo comece a funcionar" e disse que Bolsonaro "brincava de presidir o Brasil".

"Usina de crises"

No começo de abril, Maia falava em deixar a articulação da reforma da PrevidĂȘncia, se queixando de "apanhar da base eleitoral do presidente". No mĂȘs seguinte, ele foi alvo principal de um protesto favorĂĄvel ao governo federal.

Os conflitos ocorridos na sequĂȘncia também tiveram um personagem que também estĂĄ presente agora: o ministro da Economia, Paulo Guedes. Rodrigo Maia se queixou de Guedes pelas reações do ministro às reduções de economia prevista na reforma da PrevidĂȘncia conforme a proposta era alterada. Na época, o presidente da Câmara chegou a dizer que o governo era uma "usina de crises" e que o parlamento deveria se distanciar.

Houve algumas tentativas de reaproximação. Bolsonaro chegou a dizer que "namorava" Maia, a quem cumprimentou em pronunciamentos e falas pĂșblicas quando a reforma avançou nas comissões internas e no plenĂĄrio da Câmara dos Deputados

Agenda

Passada a reforma da PrevidĂȘncia, quase tema Ășnico durante boa parte de 2019 no Congresso, Rodrigo Maia deu movimentos em torno de uma agenda de propostas abraçada por deputados à revelia do governo federal. Um exemplo é a chamada "agenda social", articulada por Maia com um grupo de parlamentares que previa mudanças no Bolsa FamĂ­lia e em outros programas sociais.

Esses movimentos acenderam alerta no Planalto, que via no presidente da Câmara a intenção de fazer uma espécie de agenda paralela à do governo. Na mesma época, o presidente publicou um vĂ­deo em que partidos polĂ­ticos, a imprensa e instituições são retratados como hienas que impedem um leão, ele próprio, de governar. Maia classificou o vĂ­deo como "agressivo e desnecessĂĄrio".

Outro episódio foi a entrevista em que o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente Jair Bolsonaro, admitiu a hipótese de um retorno do Ato Institucional nÂș 5 (AI-5), instrumento legislativo da ditadura militar que fechou o Congresso Nacional e restringiu direitos. Maia classificou essa fala como "repugnante".

No final de 2019, a votação sobre o fundo eleitoral no Congresso foi razão para crĂ­ticas do presidente, que pressionava os deputados a rejeitarem a proposta. Maia acusou Bolsonaro de ter mudado de ideia a esse respeito por ter saĂ­do do PSL e, portanto, não estar mais em um partido que seria beneficiado pelo rateio de verbas

Crise atual

Nesta quinta-feira (16), pouco depois de demitir o ministro da SaĂșde, Luiz Henrique Mandetta (DEM), o presidente Jair Bolsonaro concedeu uma entrevista exclusiva à CNN. Questionado sobre a recuperação economia do Brasil após a pandemia, Bolsonaro criticou o deputado: "O Maia tem de me respeitar como chefe do Executivo", disse.

A divergĂȘncia entre o governo federal e as lideranças da Câmara começou na semana passada, depois que os deputados aprovaram uma versão remodelada do Plano Mansueto, projeto de reorganização das contas dos estados proposto pelo governo

Na nova versão, com a finalidade declarada de diminuir os impactos econômicos da COVID-19, a Câmara aprovou a recomposição de impostos, com a União repassando a estados e municĂ­pios as verbas que estes deixarem de arrecadar com tributos diante da crise. O governo vĂȘ impacto econômico excessivo.

"O que nós projetamos de economia com a reforma da PrevidĂȘncia praticamente foi engolido em poucos meses. Não vou trair a minha consciĂȘncia e deixar de falar a verdade. Eu lamento a posição do Rodrigo Maia nessas questões. Lamento muito a posição dele, que resolveu assumir o papel do Executivo com ataques bastante contundentes à nossa posição", disse.

O presidente ainda fez questão de dizer que sua crĂ­tica é ao presidente da Casa pessoalmente, não aos demais parlamentares. "Não estou rompendo com o Parlamento, não. Muito pelo contrĂĄrio, é a verdade que tem que ser dita". Nestas Ășltimas semanas, Bolsonaro se reuniu com lĂ­deres de partidos que apoiam Maia, em movimento visto como tentativa de minar o poder do chefe da Câmara.

Questionado pelo jornalista William Waack sobre os ataques de Bolsonaro, Maia respondeu que "o presidente ataca com um velho truque da polĂ­tica, para mudar de assunto". O deputado afirma que o presidente quer tirar os holofotes da mudança de comando no Ministério da SaĂșde.

"Para nós, o assunto continua sendo a saĂșde", disse ele. Maia acrescentou que não responderĂĄ a Bolsonaro "no nĂ­vel que ele quer que eu responda". "O presidente não vai ter de mim ataques. Ele nos joga pedras, o Parlamento vai jogar flores ao governo federal."


Fonte: CNN BRASIL

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